quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Comece a reciclar


Novos números sobre reciclagem no Brasil mostram que o país reaproveita apenas 11% de tudo o que joga na lata de lixo - cinco vezes menos do que nos países desenvolvidos

De acordo com os dados reunidos pelo Cempre, uma entidade especializada no assunto, o Brasil está melhor nesse indicador, mas mesmo assim são apenas 327 os municípios no país que dispõem de algum sistema público de coleta seletiva, 6% do total. O trabalho revela também que os índices brasileiros de reciclagem variam muito de acordo com o material em questão. Enquanto o país é o campeão mundial no reaproveitamento de garrafas PET e latas de alumínio, plásticos e latas de aço têm como destino preferencial os "lixões" a céu aberto.
A razão: esse é um setor ainda dado a improvisos, como cooperativas que marcam hora para buscar o lixo mas não aparecem ou firmas especializadas que só enviam às empresas recicladoras uma parte dos detritos - o resto vai parar num lixo comum.
Especialistas ouvidos por VEJA jogam luz nesses e noutros obstáculos à vista para quem quer reciclar, mas são contundentes em relação à necessidade de começar já. Os benefícios ao meio ambiente são mensuráveis, como mostram os dados a seguir.
O QUE AINDA NÃO PEGOU
A reciclagem dos três itens abaixo patina em índices ainda baixos no Brasil, de não mais do que 30% do que vai para o lixo. Os especialistas explicam por quê.
PLÁSTICOPor que se recicla pouco: a maioria das pessoas não reconhece como plástico as resinas mais maleáveis, como as das sacolas de supermercado. Por isso elas acabam no lixo comum.
Benefícios ambientais: a versão reciclada consome apenas 10% do petróleo exigido na produção do plástico virgem.
LATAS DE AÇOPor que se recicla pouco: pesquisas mostram que há resistência das pessoas em guardar essas latas no lixo de casa. Diz-se delas que são "volumosas" e "difíceis de amassar".
Benefícios ambientais: cada tonelada de aço reciclado preserva 110 mil toneladas de minério de ferro.
CAIXAS LONGA-VIDAPor que se recicla pouco: novas tecnologias já permitem separar as seis camadas que compõem a embalagem, mas, como é coisa recente, quase ninguém no Brasil o faz.
Benefícios ambientais: em 2006, com a reciclagem de 30 mil toneladas de papel provenientes dessas caixas, foram poupadas 600 mil árvores de áreas reflorestadas.

O LIXO E SEUS OBSTÁCULOS
Além de postos de coleta em praças e supermercados, há três opções para ter o lixo recolhido em casa, todas gratuitas. Veja o que os especialistas apontam como as causas mais comuns para que o lixo coletado por meio dessas opções não chegue às indústrias especializadas em reciclagem.
Coleta seletiva Municipal
Como funciona: é a prefeitura que recolhe o lixo para ser reciclado - a regularidade da coleta varia de uma cuidade para outra
Obstáculos: só 6% dos municípios dispõem do serviço, e na maioria das vezes ele cobre apenas uma parte das residências.
Coleta por cooperativas de catadores
Como funciona: é preciso contatar uma de varias cooperativas - listadas no site www.cempre.org.br (algumas delas não recolhe o lixo em casa)
Obstáculos: esse é um meio em que persiste a informalidade -às vezes, as cooperativas agendam visitas para recolher o lixo e não aparecem
Coleta por empresas particulares
Como funciona: é preciso acionar uma dessas empresas especializadas por telefone - uma delas também aparece no site www.cempre.org.br - e esperar que ela recolha o lixo na data combinada
Obstáculos: as empresas costumam exigir uma quantidade mínima de lixo para prestar serviço e muita vezes despacham para sanitários os materiais que valem pouco no mercado de reciclagem, como isopor e caixas longa -vida
Em todos os casos, cada material é enviado à respectiva indústria recicladora.
O ISOPOR DELA FOI PARAR NO "LIXÃO"
Depois de liderar uma campanha para que seus 116 vizinhos passassem a reciclar o lixo, num prédio de São Paulo, a economista Liz Pontes Moreira, 45 anos, sofreu duas decepções.
Primeiro, ela e os outros viram os restos se acumular duas semanas a fio na lixeira, sem que a cooperativa de catadores cumprisse o combinado: removê-los.
Depois, foi a vez de a empresa particular que havia sido acionada pelo síndico falhar. Ao ligar para a firma, Liz foi informada pelo gerente: "Enviamos uma parte do lixo da senhora para o lixão". A razão? "Isopor e caixas longa-vida não valem nada neste mercado." Desiludida, a economista resolveu deixar o lixo num posto de coleta.

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