sexta-feira, 24 de junho de 2011

Geração de resíduos aumenta em 2010, mas reciclagem continua estacionada

O último Panorama da Resíduos Sólidos no Brasil antes da implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) mostrou que enquanto a geração de resíduos aumentou em 7% de 2009 a 2010, a destinação final adequada, a coleta seletiva e a reciclagem praticamente estacionaram, segundo dados compilados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) divulgados no dia 26 de abril de 2011.

“Esta é uma fotografia da situação antes da lei,” explicou o diretor executivo da entidade Carlos Vieira da Silva Filho. “Agora temos que pensar nos resíduos como recursos e a aplicação das melhores tecnologias disponíveis num planejamento estratégico intersetorial, pois não existe solução isolada”.

Segundo o levantamento feito em 2010, a destinação de resíduos para aterros sanitários atingiu 57,6% de todos as 54,2 milhões de toneladas coletadas no país. Isto se compara com 56,9% das 50,3 milhões de toneladas coletadas em 2009. Ou seja, enquanto a quantidade de resíduos urbanos coletados aumentou 7,7% no período em comparação, a quantidade destinada corretamente aumentou menos de 1%.

DESTINO INADEQUADO

O resto, 42,4%, ou 22,9 milhões de toneladas foram destinadas para aterros controlados ou lixões em 2010 comparados como 43,2% e 21,7 milhões de toneladas.

Do mesmo jeito, o panorama também deixou evidente o descompasso entre o aumento dos resíduos coletados e programas de coleta seletiva. Os 7,7% de aumento se comparam a um aumento de exatos 1% no número de municípios que têm algum programa de coleta seletiva que, em 2009, eram 56,6% dos 5565 município e, em 2010, 57,6% de todos os municípios.

Além disso, dados de entidades industriais também mostraram que nos setores de plástico, papel, alumínio e vidro não houve aumento significativo na quantidade reciclada. Nos últimos três anos, o Brasil reciclou apenas 19% de todos os plásticos, 46% do papel, 35% do alumínio (apesar de ser líder em reciclagem de latinhas) e 47% do vidro. Isto tudo apesar do crescimento do PIB que não só aumentou a produção destes materiais – a maioria usada em embalagens – seguindo o aumento do consumo por causa do crescimento econômico.

“Fica claro que o aumento na geração de resíduos segue o aumento na renda e em dois anos a geração de resíduos aumentou 15%”, lembrou Vieira.

Em 2010, o crescimento de 7% do PIB para cerca de R$3,5 trilhões, e o crescimento populacional de cerca de 1% elevou a geração de resíduos urbanos por habitante no país para 378kg, um aumento de 6,3% dos 359Kg gerados em 2009 (o total de resíduos sólidos urbanos gerados em 2010 foi de 60,9 milhões de toneladas, comparado com 57 milhões em 2009).

Apesar de ainda estarmos bem aquém dos cerca de 700Kg de resíduos gerados por habitante por ano em países desenvolvidos, é um crescimento que revela um descompasso entre as políticas públicas de gerenciamento de resíduos e o aumento de bem estar da população.

Para o executivo Abrelpe, a razão é clara: falta investimento público no setor de limpeza publica, coleta e destinação final.

TAXA DO LIXO

“Segundo nosso levantamento o investimento per capita de cada brasileiro está em R$9,95 por mês,” afirmou. “Isto é e pouco e inadequado principalmente quando compararmos com o quanto se gasta em outros serviços públicos como saúde, saneamento básico e até com o quanto cada cidadão gasta por mês em telefonia celular”.

Este fato fica mais evidente quando se vê que os municípios menores, com até 50 mil habitantes, 61% não têm qualquer programa de coleta seletiva. Entre as metrópoles com mais 500 mil habitantes, 8% não implementaram qualquer programa de coleta seletiva.

Este é um setor que emprega cerca de 300 mil pessoas e gira anualmente R$19 bilhões, ou seja cerca 0,5% do PIB.

No entanto, segundo Vieira, a implementação das PNRS deve começar a mudar este cenário já que impõe a obrigatoriedade aos municípios a terem planos de gestão de resíduos, força as indústrias a se responsabilizar pelos resíduos gerados pós-consumo e abre espaço para cobrança pelo serviço de limpeza urbana.

Para ele, isto indica a implementação de novas tecnologias de reciclagem, compostagem e até de geração de energia. No entanto, segundo o executivo, o primeiro passo é começar a cobrar pelos serviços adequadamente, o que aumenta a demanda por serviços de reciclagem.

“Onde é adequadamente feita a cobrança, há redução na geração porque atinge as pessoas diretamente no bolso,” disse.

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